Antes
não era assim, eu era feliz, não havia tristezas, e os pequenos dissabores
passavam rapidamente, sim eu era feliz, mas eu era criança.
Eis
a questão, eu era criança, acreditava, tinha esperança, no mundo não havia
maldade, ninguém para mim era ruim, ruindade não existia, vivia protegida no
meu mundo infantil, é eu era feliz.
Não,
não era uma criança rica, nem pobre demais, tínhamos nossa casinha, simples,
modesta mesmo, pequenina, dois cômodos, papai trabalhava muito, mamãe nem
sempre, só os dias que tinha faxina, nestes dias ficava com a vovó, não tinha vaga
na creche e meus irmãos, eram dois, já estavam na escola de verdade.
Feijão e arroz sempre tinham, agora guaraná ou
soda só em dias de festas, natal, ano novo, páscoa e festa de aniversário.
Mistura não nos importava, tudo que mamãe fazia era gostoso e bem vindo, não me
lembro de meus irmãos reclamarem, só quando o jantar atrasava, era um tal de aí
que fome pra lá e aí que fome pra cá. Mamãe ralhava, coitada era nos dias que tinha
faxina que a comida atrasava, papai tinha paciência, às vezes chegava tarde,
mas a gente não ligava, ele sempre trabalhava muito.
Ah!
Eu era feliz, chorar um pouquinho quando brigava com meus irmãos ou eles
comigo, não me tornava infeliz, ficava com raiva e só, logo esquecia.
Noto na
minha memória, que quando estava na segunda série já no meio é que comecei a
entristecer, já não era tão feliz, começava a conhecer o mundo, as suas tantas
diferenças e descobri que tinha gente ruim, sim, até crianças ruins, não gostei
de minha descoberta, mas a partir de então a felicidade, não era uma constante,
com o tempo passou a se distanciar no tempo os dias que me sentia feliz e mais
fui crescendo, mais difícil era me sentir feliz, até que finalmente passei a
crer que felicidade não existia, apenas momentos felizes e por quê?
Hoje
eu sei, enquanto era criança e permanecia com o meu coração puro, era feliz,
depois deixei o meu coração ser contaminado pelas maldades do mundo, pela
vontade de ser alguém, pelo desejo de ter coisas que não podia ter e então me
lançava na luta constante para ter, é contaminei meu coração, passei a achar
injusto as pessoas pobres sem nada e os ricos com tudo, achava injusto, mas
nada fazia.
Bem,
mais tarde, já de meia idade, comecei a abraçar este povo pobre, eu também o
era, apesar que tinha conseguido sair da classe pobre e fui para a remediada e
abraçava como podia nem que fosse com um sorriso, uma palavra, um agasalho, um
alimento, uma ideia, a qualquer pessoa que cruzasse meu caminho e deixasse eu
me aproximar, às vezes eram contatos rápidos, outras vezes, devo dizer raras,
os contatos se repetiam e era criado um laço de amizade, então um dia descobri
o quanto me sentia feliz quando estava abraçando alguém, eram momentos em que
tristeza não existia, eram momentos que meu coração se abria da mesma forma de
quando eu era criança, quando a esperança sempre existia, desta forma descobri
como ser um pouco feliz nesta terra.
Bem,
não é uma mensagem, é apenas um relato, de alguém que aprendeu, nesta escola
bendita que é este planeta abençoado que recebe a tantos encarnados, o que
Jesus queria dizer quando em suas sábias lições disse: "Eu lhes asseguro
que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais
entrarão no Reino dos céus.
Portanto, quem se faz humilde como esta criança, este é o maior no Reino dos
céus”.
Mateus 18:3-4
Desta
forma, apenas quando olharmos a nossa vida e o mundo ao nosso redor com o olhar
que tínhamos quando éramos crianças, só então, conseguiremos nos sentirmos
felizes e olharmos os revezes da vida com compreensão, esperança e muita fé.
Ditado
por Maria Adelaide
psicografado
por Luconi
em
22-03-2014