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segunda-feira, 22 de março de 2010

AMIGO MUITO OBRIGADO




Foi na década de 80 que eu e minha esposa decidimos nos mudar para São Paulo, eu estava com sérias dificuldades para arrumar emprego, era tapeceiro de autos e dos bons, em São Paulo teria chance de ganhos maiores, depois de alguns ensaios, nos arriscamos, pegamos a filharada e viemos.

Não digo que foi fácil porque não foi, bate perna aqui, bate perna ali, o aluguel da casa para nosso bolso nada tinha de barato, mas um dia a procura de trabalho fui informado de uma tapeçaria que era de porte médio, nada parecida com as que eu arrumava biquinhos para fazer, além de pequenas, pagavam pouco, pois cobravam pouco, nem sempre tendo o material certo para fazer o trabalho.
Acendeu-me a esperança, não custava tentar, chegando lá me deparei com o dono,
rapaz quase da minha idade eu até hoje acho que ele não estava procurando ninguém para trabalhar, mas tapeceiro bom era difícil, profissional que para ser formado tem que iniciar na profissão como aprendiz desde moço, e ter como principal qualidade o capricho. Ele ainda disse vamos ver pode ficar faremos uma experiência, bem agradeci a Deus, sempre fui de ter fé, apesar de não praticar.

Sabia que havia ali mais que o acaso, porque a simpatia foi mútua, e tinha que ser nós éramos muito parecidos, e não digo de gênio, mas sim no jeito e fisicamente, tinha alguma coisa em mim que era igual nele, não sei, até a esposa dele não só de imediato como depois quando eu estava de lado ou de costas se confundia, vinha de longe chamando o nome dele e quando chegava perto dizia, me enganei de novo.
Imaginem os colegas, vinham perguntar se eu era parente, ao descobrirem que não era um prato cheio para a gozação.
Bem enfim ele não era de falar muito eu também não era, mas criou-se uma confiança mútua, sabia que ele não falharia comigo e da parte dele o mesmo.
Estava tudo bem, trabalhava em paz, as coisas em casa melhoraram, mas um dia um pequeno problema cardíaco de minha esposa piorou, eu faria tudo por ela, e o médico assegurou que o interior era melhor, bem não era tão longe assim, faríamos uma experiência, ela iria com as crianças e eu ficaria numa pensão perto do trabalho para não gastar com condução, cada quinze dias iria vê-la, se desse, senão suma vez por mês e em algum feriado prolongado.

Assim foi feito, logo minha esposa mostrou melhoras, eu sentia sua falta e das crianças, mas lá eu não teria trabalho, eu não aluguei um quarto, aluguei uma vaga, dormia num quarto com beliches. Ali éramos quatro, mas os outros eram farristas, bebiam, e eu dormia muito mal, mas haveria de encontrar um lugar melhor.

Bem, chegou finalmente um feriado prolongado, três dias eu não suportava mais a saudades, ao invés de viajar a noite, iria no outro dia cedo, afinal eram três dias, estava ansioso que até comentei com a esposa do patrão, ela trabalhava conosco no escritório, parecia uma boa pessoa mas era um tanto enérgica, ela cuidava do nosso pagamento, e era muito correta, ao contrário do patrão sempre puxava conversa na hora de nos pagar.
 Eu não era de conversa, mas aquele dia eu estava feliz, então na hora da saída peguei meu pagamento, falei-lhe da minha viagem e ela me perguntou vai agora mesmo não vai? Não eu não ia, ela mostrou desapontamento, e eu lhe disse que estava cansado e ia junto com os colegas tomar umas cervejas, depois iria dormir e no dia seguinte bem cedo iria.
Nestas alturas todos os colegas estavam a minha volta, e ela disse : - Não vão beber no bar, em ambiente de bar sempre tem coisa ruim, vão então para casa de quem mora mais perto, em casa não tem perigo. Mas melhor mesmo que fossem pra suas casas.
Qual o quê todos deram risada, beber em casa não tem graça, nestas alturas ela percebeu que íamos levar o Joãozinho, que tinha quatorze anos. Nossa como ficou brava, disse que ele era menor, que nós estávamos ensinando o menino a beber, e repetiu várias vezes vão para casa.
Bem aquela mulher “que todo mundo saiu dizendo como ela enche o saco”, estava tanto a nós muito mais que um conselho, ninguém a ouviu e eu só bem mais tarde, entendi que ela fazia o papel de um anjo, tentando desviar-nos do mal.

Fomos ao tal bar, bebemos e eu quando bebia ficava muito alegre, brincava com todo mundo, com quem conhecia e não conhecia, os colegas se divertiam, eu sempre tão calado, tão sério, eles nunca tinham visto aquele lado meu. As horas passaram muito rápido, eu perdi a noção do tempo, meus colegas aos poucos foram indo embora, e eu fiquei só, a pensão era próxima.
Havia dois homens no bar que eu conhecia de vista, talvez da pensão, nem me lembrei que os caras da pensão não eram confiáveis, brinquei com eles, aquela brincadeira sem graça de bêbado, eles mandaram o palhaço calar a boca, eu não calava, então eles disseram que eles calariam. Nestas alturas alguém me disse que era melhor ir embora, enquanto as coisas estavam naquele pé, eu bêbado, burro e teimoso, ainda levei na brincadeira. Bem a reação dos dois homens fazendo sinal que iam cortar minha garganta, parece que me acordou, paguei o que devia e caí fora.
O ar da noite melhorou um pouco a bebedeira e então percebi que estava sendo seguido, olhei para trás vi os homens, comecei a correr, atravessei a rua estava próximo da pensão, corri para lá, alcancei a porta, na pressa não achava a chave, bati, bati muito, ninguém abriu, eu não podia esperar mais, continuei a correr, eu nem sabia que podia correr tanto. Mas hoje eu sei que eu não corria tanto, eles é que estavam esperando eu me afastar das ruas que tinham algum movimento. Quando alcancei a Guaicurus, na altura em que já não havia movimento,devia ser tarde, bem tarde, eles me alcançaram. Um me segurou o outro bateu, então percebi que eles estavam no bar a mando de alguém da pensão, por isso não abriram a porta, exigindo silêncio para poder dormir, brigando porque haviam roubado algumas coisas minhas, comprei inimigo mortal. Bem, percebi isso porque um deles abriu minha mochila, e foi jogando tudo no chão, até encontrar lá no fundo o canivete.
Sim, eu tinha um canivete que minha mãe me deu quando vim morar em São Paulo, ela disse que era para me defender, ele sabia que estava ali, ele sabia, e foi com ele que me atingiu.
Desmaiei imediatamente, pelo menos eu acho meio consciente devia estar porque após um tempo que me pareceu uma eternidade, a voz de uma mulher me disse: Aguenta firme que vou buscar ajuda.
Outro anjo, novamente uma eternidade, desta vez mais calmo, vi toda a minha família, meus filhos, minha amada esposa, minha mãe, pessoas que dependiam de mim, e eu estava ali estirado no chão da rua, a moça voltou e senti que estava em uma ambulância.
Percebi que estava no Hospital, as forças me faltavam, estava tão fraco, percebi que o anjo estava perto daquela cama que andava, e senti que era o fim, não tive pensamentos de raiva, ou revolta, só mágoa de mim, porque não viajei direto depois do trabalho, aí na hora derradeira senti muita paz, lembrei-me de pedir para entrar, então disse: Jesus abre as portas que eu to chegando.

E Ele abriu sim, porque fui assistido quase imediatamente após o desencarne, e se hoje eu escrevo tudo isso, é para dizer que aquele cara, aquele cara, que um dia me permitiu trabalhar para ter o pão de cada dia, aquele cara que eu confiava, não me desapontou, não me abandonou não. Semanas depois quando eu não tinha ainda noção de tempo, não dava sossego para irmãos que me atendiam, preocupado que estava com a minha família, afinal minha esposa teria feito como, ela não tinha condições financeiras, nem para o enterro.
Vendo que eu não sossegaria o espírito, um deles sentou-se do meu lado e disse-me: Sabe aquele irmão que era seu patrão, e que você sentia que poderia contar sempre?
Então meu irmão ele ajeitou tudo e sossega que ele fará o que puder para sua esposa receber alguma pensão do governo, vai depender muito dela. Agora sossega o teu espírito, que a missão deste irmão em relação a você era exatamente essa, te amparar caso você precisasse, nem que fosse na situação do Adeus final.

Por isso, eu venho aqui, para em primeiro lugar agradecer você meu irmão, que me estendeu a mão e não me negou ajuda, mesmo estando meu corpo morto, você cuidou de mim, sim éramos parecidos, mas este não foi o motivo, é que você sempre agiu como pai para aqueles que trabalhavam com você. Muito obrigada e esteja certo que um dia poderei retribuir a altura.
Em segundo lugar, para alertar quando alguém mesmo que lhe pareça uma bobagem, lhe der um conselho pare, reflita, faça uma prece, e siga o seu coração, pois se eu tivesse seguido, teria tido mais alguns bons anos de vida. Não que este carma não estivesse em meu caminho, mas se eu vencesse aquele momento evitaria a queda e não daria espaço, muita coisa teria mudado.
Em terceiro lugar, não peço para saber dos meus porque bem sei deles, tenho permissão para visitá-los, mas te digo que entre os meus tem gente precisando de pai, apesar de agora já serem adultos, mas isto a vida irá ensinar.
Não cito nomes, porque não quero causar dor, saudades, se um dia tiver oportunidade, se Deus prover o acaso eles terão conhecimento desta, agora sigo em paz, e se tiver oportunidade virei vê-los, agradeço a Márcia por ter me cedido seu tempo, e a esse irmão que está do meu lado me ajudando, pois como sabe eu de escrita não sei muito, mas estou aprendendo, sabe aquela consciência do aprendizado de outras encarnações está voltando, só por isso consegui me expressar.
Se puder voltarei mais vezes, mas para dar testemunhos do meu trabalho, até minha próxima reencarnação, que talvez ainda demore alguns anos, mas vindo ou não sempre que puder os visitarei do amigo de ontem, hoje e sempre.

Ditado por Edgar
psicografado por Luconi
em 19-02-10

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